Nos últimos anos estamos presenciando um chamado para o mundo onírico. Muitos movimentos tem sido feitos. Os xamãs tem ganhado mais espaço, termos como "arquétipos" tem sido pauta de discussão e o fenômeno do sonhar tem sido pauta tanto da ciência como do nosso cotidiano.
Carl Gustav Jung dedicou-se muito na compreensão dos sonhos como fenômenos importantíssimos para o autoconhecimento. E quando menciono "autoconhecimento", não estou falando somente do conhecimento do "eu", mas do ser múltiplo e diversos que somos nós.
Por sermos múltiplos e diversos, podemos borrar a tinta, à luz de Jung, e afirmar que os sonhos são grandes manifestações dessa personalidade diversificada que somos. Vamos combinar uma coisa: desistir da ideia de que nós sonhamos e temos sonhos.
Prefiro entender que vivenciamos o sonho e somos sonhados. Veja mais sobre a importância dos Sonhos na Psicologia de Carl Gustav Jung
A interpretação dos sonhos é essencial para a compreensão do inconsciente. Apesar de C. G. Jung mencionar o termo "interpretação", normalmente os junguianos utilizam o tempo "ampliação" ou "amplificação" do sonho, com o intuito de ser fidedigno ao método de análise dos sonhos prospectivo, sintético e teleológico, diferenciando-se do método redutivo causal de Freud. Sendo reducionista, a fim de ser pedagógico, a ampliação do sonho pergunta de antemão "para quê você viu este sonho?"; e a segunda, seria "por quê você teve este sonho?".
Existe algo muito importante quando analisamos sonhos! Jung enfatizava a importância do contexto pessoal e cultural na interpretação dos sonhos, e considerava essa análise um instrumento valioso no processo de individuação, a integração das diversas facetas da personalidade. Somente após essa primeira análise pessoal, podemos utilizar de significados coletivos. Por isso, não é recomendável buscar no Google e nem no ChatGPT o significado do sonho.
Outra coisa importante é a função compensatória dos sonhos. Os sonhos possuem uma função compensatória em relação à consciência. Eles buscam criar uma homeostase e uma heterostase entre a consciência e aspectos negligenciados ou reprimidos da personalidade, oferecendo uma perspectiva alternativa aos padrões de pensamento e comportamento habituais.
A função compensatória dos sonhos na teoria junguiana desempenha um papel crucial na harmonia e no desenvolvimento da psique. Jung acreditava que os sonhos funcionam como um mecanismo de ajuste, proporcionando informações complementares e lampejos que possam compensar as atitudes e visões conscientes unilaterais.
Na teoria junguiana, a psique é composta por duas partes principais, o consciente e o inconsciente. Enquanto o consciente representa as experiências, pensamentos e emoções das quais estamos cientes, o inconsciente inclui aspectos desconhecidos ou reprimidos da personalidade.
A função compensatória dos sonhos busca estabelecer uma harmonia entre essas duas partes. Lembrando que a harmonia que estou mencionando aqui, na maioria das vezes, não é agradável ao ego e à consciência, visto que o ego normalmente quer ser o rei da psique (ledo engano) e qualquer outro aspecto que diferente é ameaçador.
Os sonhos podem revelar e compensar atitudes unilaterais ou extremas presentes na consciência, abordando aspectos negligenciados ou subestimados da vida do indivíduo. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando uma pessoa tem uma atitude excessivamente racional e lógica em relação à vida, e os sonhos apresentam elementos místicos, emocionais ou intuitivos, proporcionando um contraponto e equilibrando a abordagem da pessoa. Ou então, o sonho pode exagerar o racionalismo do cliente, trazendo um sonho ainda mais racionalista. Por isso, não existe regra, tudo depende do indivíduo.
Reconhecendo a função compensatória dos sonhos, podemos afirmar que tanto ela quanto os sonhos estão intimamente relacionados ao processo de individuação – o tornar-se inteiro, completo. Durante este processo, os sonhos podem ajudar a integrar os diversos aspectos da personalidade.
Em síntese, a teoria dos sonhos de Jung destaca a importância de olhar para o mundo onírico como uma fonte de sabedoria e autoconhecimento, contribuindo para um maior entendimento de nós mesmos e do funcionamento da mente humana. Possibilitando assim, uma promoção não somente uma mudança pessoal, mas coletiva.
Leonardo Torres, analista junguiano.
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