É preciso deixar bem claro: ambas são importantes. Nós muitas vezes vemos memes e frases em que uma aparece mais necessária do que a outra. Mas, no fundo, isso é uma falácia. Talvez para promover a psicoterapia ou até para afirmar que quem faz gasta dinheiro à toa. Na verdade, não se deve colocar estas duas coisas como opostas e excludentes.

Ter amigos é extremamente importante para um indivíduo sentir-se bem. E ser saudável. Os amigos ou o grupo trazem ao indivíduo em questão a noção de pertencimento, de acolhimento. Boris Cyrulnik afirma que o "eu" de alguém só começa a entender a si mesmo, quando ele se relaciona com o outro, gerando vínculos (a amizade, por exemplo). Isso acontece quando o indivíduo percebe as diferenças e as igualdades entre o seu "eu" e este outro. Neste embate, com empatia e alteridade, a amizade se concretiza.
Ter amigos verdadeiros que abrem seus corações, ou melhor, suas dificuldades, vergonhas, frustrações, tristezas, faz com que o "eu" do indivíduo não se sinta sozinho no mundo. A Ciência já aponta que um dos fatores que levam uma pessoa a cometer suicídio é a falta de vínculos. Se, por um acaso, um potencial suicida sente-se vinculado a alguém, a vontade de tentar se matar são reduzidas drasticamente.
Porém, existe um movimento que a amizade não faz e nem tem a pretensão de fazer: a ampliação da consciência – a transcendência. O psicoterapeuta deve sim estabelecer o vínculo e acolher o seu cliente, mas ele deve ir além, se não a psicoterapia vira uma "reclamoterapia". Um dos papéis do terapeuta é se tornar um espelho, fazer com que seu cliente se perceba da maneira menos deturpada possível, desconstruindo paradigmas, projeções, etc..
Muitos clientes chegam à terapia superestimando ou subestimando a si próprios. E promover em si uma mudança de perspectiva é penosa e dolorosa. A terapia não acontece somente na sessão. Ela é diária e constante. A visita ao terapeuta serve para manter a integridade da psique, mas somente ir e falar incessantemente sem olhar para si não gera transformação alguma. É neste ponto que o terapeuta deve saber a hora de acolher e a hora de fazer o indivíduo confrontar seus aspectos sombrios.
Se somente acolhe: cai-se em “reclamoterapia”; se somente enfrenta: há variados perigos, tanto de cisão quanto de projeções. Deve-se alternar, portanto, a fim, como já mencionado, de garantir a integridade da psique do indivíduo. Por isso o vínculo com o terapeuta é necessário, se não o cliente acaba abandonando as sessões na hora de confrontar a si próprio.
No fundo, terapeuta e cliente descem juntos ao Hades, no submundo infernal, para evitar que Hades não venha subitamente ao encontro do cliente. Ou seja, promover a tentativa do cliente perceber a si e trabalhar/integrar os conteúdos que convidam-o para o autoconhecimento, como sonhos, visões, projeções, sintomas, depressões, ansiedades, pânicos e etc.. Assim o cliente tende a ficar cada vez menos dominado por tais sintomas, e acaba por ressignificar a si e sua vida.
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