“Já se observou que a palavra "coroa" é, originariamente, muito próxima da palavra "Corno" e exprime a mesma ideia: a de elevação, poder, iluminação. Uma e outra se elevam acima da cabeça e são insígnias do poder e da luz” (Dicionário dos Símbolos, Gheerbrant e Chevalier).
A coroa e os cornos estão dominando o mundo neste momento. Estamos vivendo a coroação e/ou os cornos de Pan, ou do antricristo. C. G. Jung já indicara que nosso aion é do anticristo. Enquanto no passado houve o movimento da figura de Cristo para humanidade, agora assim como João nos profetizou, o Anticristo vem se revelar.
Cristo e Pan são um complexio oppositorum, enquanto os pés humanos de um estão encravados, os pés de bode do outro dançam freneticamente; é a dualidade pastor e bode; o controle e o descontrole.
O mundo até então vive com a ideia de um deus e de um paradigma summum bonun, pautado pelo racionalismo e por uma hybris sem igual, argumentando que se há desenvolvimento, progresso, é porque deus está contente, grato e recompensando. Ilusão mais terrível não há.
No fundo, o deus cristão fundiu-se ao dinheiro de tamanha forma que ambos tornaram uma potência mundial. Por um bom tempo, grande parte da humanidade se esquece do outro lado desse deus, de Cristo e, por incrível que pareça, do dinheiro. Na verdade, grande parte da humanidade se esquece de si mesma, de sua Sombra. É por isso que Pan ou o Anticristo chegou. Agora, parece que a enantiodromia começou a acontecer. Ele veio para reivindicar o seu lugar, um lugar que com a ampliação da consciência e com o autoconhecimento já deveríamos ter-lhe aceitado. Porém, o brilho do círculo da moeda hipnotizou mais do que o círculo da coroa, e mais, a coroa e os cornos foram usados em prol do outro deus, o do progresso, do dinheiro, demonstrando superioridade humana e do deus summum bonun nas Igrejas que sempre ligaram Pan unicamente ao mal, reprimindo-o mais ainda. Neste exato momento, o sistema, a humanidade, dobra-se de joelhos, perante a coroa de Pan.
Enquanto estávamos dançando freneticamente, consumindo, hybricamente, e crucificando Pan, ele como divindade que é, crescia em silêncio na gruta. Foi necessário um animal da gruta, o morcego, para anunciar sua chegada. Agora nós estamos crucificados e ele dança com sua grandeza.
O Coronavírus promoveu algo sem igual: todos estão desesperados, em pânico, sentindo a dor do mundo no cubículo de suas próprias casas. Pan é isso, sentir tudo e nada ao mesmo tempo. Ou vamos sucumbir ao pânico, assim como alguns já fazem, ficando em filas para comprar armas, ou vamos honrá-lo e reconhecê-lo, dançando, fazendo música, e reconhecendo o bode, o animal, o grotesco dentro de nós mesmos. Na Itália, o clima só melhorou quando os Italianos começaram a ir para das varandas e ressignificar Pan, com músicas, gargalhadas, palhaçadas e etc..
Autor: Leonardo Torres, 30 anos, analista junguiano, palestrante e doutor em comunicação e cultura.
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