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Foto do escritorLeonardo Torres

Conveniência x Consciência: mares calmos não fazem bons marinheiros



Para a psicologia analítica ou junguiana é muito comum estudarmos e nos atentarmos para a concepção da consciência como uma ilha que surge em meio ao inconsciente, tanto pessoal como coletivo; contudo, passa desapercebido que para se formar uma ilha é necessário que do fundo mar surja um vulcão e que este entre em erupção, cuja lava expelida se resfria e se acumula em montes. Pouco em pouco e em milhões de anos, a lava resfriada ultrapassará a linha da água do mar, surgindo a tal ilha ou a tal consciência.


Tomar consciência é a erupção da lava em meio ao oceano de água. Por vezes, parece até impossível, mas a verdade é que não há outro lugar mais propício para este acontecimento. O que é impossível é conceber a consciência sem o inconsciente e vice-versa. A grande questão é que tomar consciência é trabalhoso, é dolorido, é uma ruptura. C. G. Jung sempre afirmou que o indivíduo faria qualquer coisa, não importa o quão absurda, para não ter que confrontar a sua própria sombra.


Como diria Levy Strauss, para entender o mundo é necessário sujar as mãos na empiria, isto é, nos acontecimentos do cotidiano e no sentir a realidade na pele. Por isso muitos ativistas afirmam que é importante o “lugar de fala”. As questões sociais e os movimentos que visam à quebra de preconceitos é de extrema importância para a sociedade e com certeza eles são uma erupção cada vez mais necessária. No entanto, é também importante que o outro, aquele que não possui o lugar de fala, entenda e tente ao menos considerar tais questões, senão seremos grupos pregando para nós mesmos no deserto do real, nos tornando narcisos e ecos com uma única voz.


Começar a escutar o outro não é tarefa fácil, pois muitas vezes vai de encontro aos nossos ideais de vida. Reconhecer um preconceito em nós mesmos, então, é ainda mais difícil. Mas é fato que precisamos sempre duvidar da conveniência em prol da consciência. E devemos fazer isso aos poucos. Pergunte-se sempre: quem é a pessoa que varre a minha casa ou lava a minha louça? Quem produz e cozinha o alimento que eu como? Quem leva o meu lixo embora da minha casa?


Quem trabalha para eu ter luz, segurança, água quente, roupas, casacos? Quem se sacrifica para eu ter conforto? Aquele pensamento “as coisas são assim” ou “eu não tenho culpa de ter nascido onde nasci” é maior conveniência possível, pois está em nossas mãos escolher tomar consciência dessas pequenas questões. Muitas vezes o que enxergamos como conveniência é simples e pura inconsciência. Se estas perguntas forem feitas e respondidas, a cada resposta certamente nos tornaremos mais conscientes e promoveremos uma mudança coletiva em todo o globo.


Autor: Leonardo Torres, 30 anos, analista junguiano, palestrante e doutor em comunicação e cultura.


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